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Política nacional de museus: relatório de gestão 2003-2006
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Metadados
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Título
Política nacional de museus: gestão de 2003 - 2006
Autor
Departamento de Museus e Centros Culturais
Assunto
Resumo
Os museus do Brasil estão bem vivos
A importância dos baús abertos da nossa memória afetiva revitalização dos museus brasileiros e do patrimônio histórico do país é uma das prioridades do Ministério da Cultura. Após anos de redução progressiva dos
investimentos no setor, no período de 2003 a 2006, elevamos para um patamar de R$ 300 milhões o valor dos recursos destinados diretamente pelo sistema MinC aos museus. Nesse total estão incluídos os
investimentos, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, de parcerias como as que celebramos com a Caixa Econômica Federal, o BNDES e a Petrobras e ainda de programas específicos como o Monumenta, em colaboração
com a Unesco. Essa série de iniciativas tem como alvos principais a preservação de acervos e prédios tombados, a modernização tecnológica e gerencial dos museus, o estímulo ao uso dos acervos e espaços pela população e a criação de novas instituições. Com esse impulso, podemos dizer que os museus brasileiros estão vivos novamente e abertos à vida que há fora deles.
Este assunto evoca os versos de uma velha canção: “Tanta saudade preservada num velho baú de prata dentro de mim / Digo num velho baú de prata porque prata é a luz do luar”. Ela fala de um tempo de retorno ao Brasil e de um tempo de exílio e da memória afetiva preservada num velho baú de prata. Esse baú é como um museu pessoal, o museu que todos temos, feito de lembranças, quinquilharias e reminiscências que alimentam o nosso presente. Como todos os museus pessoais, o da canção tem “qualquer coisa” que vai além do “eu”. Há um momento e um território em que o canto da memória se encontra com outras memórias e outros cantos. E se transforma a partir dos encontros feitos. Os museus de pedra e cal e os museus virtuais são baús abertos da memória afetiva da sociedade, da subjetividade coletiva do país, da soma dos museus pessoais.
Penso no velho baú de prata, penso no matulão, penso num projeto de viagem com mala e cuia, penso nas arcas de alianças e chego aos relicários, aos realejos e seus desejos de reinvenção do real, e também na arte contemporânea, no futebol, na tecnologia. Por este sertão de memórias e suas veredas, chego aos grandes museus das capitais e também aos pequenos museus do interior, e mais ainda aos museus portáteis, tão caros aos homens e mulheres do povo, aos artistas,
aos museólogos, aos educadores, aos antropólogos, aos cientistas do microcosmo social e a todos os que se dedicam ao pensamento e à expressão. Há, como se sabe, museus de diversos tipos, todos igualmente significativos. O importante é que estejam vivos, que pulsem, consagrando o jogo de tradição e invenção que dialeticamente marca a construção
da cultura brasileira.
Diferentemente dos que não gostam ou simplesmente não se encantam com os museus, e que os vêem como resíduos do passado, eu gosto dos museus. De todo e qualquer museu. E tenho especial apreço por aqueles que têm cheiro de vida e querem, por decisão de quem os alimenta,
inundar a vida de mais vida; gosto dos museus que seguem se fazendo e se refazendo. Há quem pergunte: de onde vem este encantamento com os museus? Respondo: a raiz da música é a mesma do museu. E esta raiz remete ao cosmo (e ao caos) das musas. O museu é a casa das musas. E não por acaso a musa da música tem lugar privilegiado no Templo das Musas, no museu das artes, no panteão das musas, que, desde a mitologia grega, são as inspiradoras de toda arte, de toda criação humana. Os
museus abrigam o que fomos e o que somos. E inspiram o que seremos.
Falar das musas não é falar do passado. Ao contrário.
Por isso, vejo que os museus no mundo contemporâneo são lugares de criação, diálogo e preservação do aqui e do agora. Esta noção está na base dos esforços do Ministério da Cultura num campo que traz simultaneamente o arcaico e o novo, o político e o cultural, o singular e o
universal. Nos últimos quatro anos, o MinC estimulou a criação da Política Nacional de Museus, criou o Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DEMU/IPHAN)
e investiu expressivos recursos no Museu Histórico Nacional, no Museu Nacional de Belas Artes, no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Museu da República, nos Museus Castro Maya, no Museu da Inconfidência, no Museu do Ouro, no Museu Villa-Lobos, no Museu Lasar Segall,
no Museu Imperial, nos chamados museus regionais do IPHAN e em tantos outros.
Também preparou o lançamento do Sistema Brasileiro de Museus, uma grande rede de articulação e desenvolvimento que incorpora os museus estaduais e municipais.
Em várias regiões, com o estímulo do MinC, realizaram se (e ainda se realizam) fóruns estaduais que constituem a base para a criação e a revitalização de sistemas estaduais e municipais de museus. Além de articular e investir nos museus já existentes, o MinC moveu-se na direção de criar novos museus e aprovou o reconhecimento oficial da Semana de Museus, em maio, e do Dia Nacional do Museólogo (18 de dezembro), de modo a valorizar publicamente o setor e seus profissionais. Posso mencionar ainda a iniciativa pioneira do edital de Modernização de Museus,
voltado para instituições públicas e privadas não vinculadas ao Ministério da Cultura, que receberam recursos públicos de R$ 3 milhões para se atualizar.
Um dos próximos passos será a criação do Instituto Brasileiro de Museus, antigo anseio da comunidade museológica. Coloco boa parte da minha energia nesse projeto, por reconhecer o lugar estratégico dos museus na política pública de cultura e considerar que essa área demanda um órgão próprio de gestão. Um órgão que, seguindo as sugestões e fazendo-se herdeiro de Mario de Andrade, valoriza os museus populares, a dimensão republicana dos museus, os museus municipais e o papel educativo dos museus.
Torço para que os nossos museus não tenham medo do novo, do público, do diálogo, da atualização. Que não tenham medo de ser de “todo mundo”. Os museus são “pontos de cultura” e interessa tocá-los de acordo com a
compreensão ampla do que chamei “do-in antropológico” (no caso, “do-in museológico”). Para além dos baús pessoais, os museus brasileiros devem cumprir um papel de referência e base para o futuro da cultura. Que eles sejam música e poesia para os nossos corpos, mentes e espíritos; que sejam os templos de todas as musas e de todos nós. E que os brasileiros possam se orgulhar dos seus museus, novos e velhos.
Gilberto Passos Gil Moreira
Ministro de Estado da Cultura
Idioma
Português
Tipo de item
Relatório
Assunto
Política museal | Legislação museológica
Instituição
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Data de publicação
1 de janeiro de 2006
Descrição
Política nacional de museus: relatório de gestão 2003-2006
/ Ministério da Cultura, Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional, Departamento de Museus e Centros
Culturais. _ [Brasília]: MinC/IPHAN/DEMU, 2006. 144 p.
1. Museus – política pública – Brasil. 2. Museologia – Brasil. 3.
Brasil – política cultural. I. Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Brasil)
CDD 069.0981
Title
Política nacional de museus: relatório de gestão 2003-2006